terça-feira, 3 de novembro de 2015

Entre o almoço e o café

A vejo, quero beijar
Ela, talvez pense: "só na hora de sair"
Parece fazer não ligar
Mas, no fim, acaba por desistir





























sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Nomes da noite


da  noite de rua infinita com o amigo Paulo Abelha

Componha um verso,
Reverso.
Vaga-lumes, crocodilos, sorrisos a granel.



                                                                                                         Reverso,
               Com ponha vaga-lumes.
                                                          Crocodilos a granel e sorrisos.



Por-verso: ponha a granel,                                                                                    vaga.
                Sorria nos lumes dos crocodilos, com               re-verso.



Pergunte a granel,
                                                                     aos crocodilos de sorrisos,
                     proponha versos e vaga-lumes:

                                                                       e
                                                                         es
                                                                                que
                                                                                          cê,
                                                                                                  o
                                                                                             per
                                                                                    verso. 

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Ateliê*

Não é artista o mistério por traz das letras,
Não pode, o poeta, ser hospedeiro do amor.

A arte é que se enfeita entre arte,
chave universal de novos mistérios.

Expulse o criador da criação!

A Piracema *

O amor que nos quero é amor de amor
Não é amor de um amor só, ou
de tantas polegadas, ou
de véu e de contrato.

O amor que nos dou é amor que é meu,
Nos sou não por dez promessas, ou
de chuva no ser-tão, ou
por sua sedução.

Mas, se o amor que nos tomar
for amor de madrugada, se
nele coubermos em metades,
Que nos caiba então.

Por ser-nos amor, não só o que quero,
Venha como for: Por dez chuvas,
Ser-tão e sedução; Pelas
promessas de polegadas.

Mesmo as arruelas dos desesperados
Podem vir vingar em nossas bandas.
Que vire, até, amor de um amor só.

Não que rogue praga, mas nem
véu e nem contrato, seriam
de completa perdição.

Correm os dicionários nas ruas que contravim,
os sentidos, mas sem sentido.

Que, por isso, não tenhamos teorema, só
muita coragem e muito medo.

Que nos seja, sobre todos, amor de amor.



Sinal de chuva no sertão

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Fogueira *


O tijolo a casa e os móveis não são nada independentes.
De nada serve o tijolo separadamente.
Não há casa sem os tijolos que encontrei vida sim, dia não
E seria miserável de alma se apenas os móveis tivesse.

Há tempo em que, de certo, a ausência assola.
E se perde na casa vazia eco de amargura.
As vontades se criam na gente mas nada está.
A parede grande, branca e imponente de não serve
se não para lembrar como é duro ter passado.

Vezes outras a miséria toma conta do tempo.
E apesar de rico no dia dia, empossado de mil novos objetos,
o anoitecer sempre chega. Não há onde se abrigar.
O sentido se perde com dezenas de pregos nas mão:
Não se encontra, sequer, parte de tabique para os novos sedutores quadros ostentar.

Casos sim, empera a desilusão.
Os tijolos catados com cuidado jardineiro,
fazem nu o destino quando não querem nele mais estar.
De buraco em buraco a parede ilumina,
até, apenas pó, o futuro se tornar.

Mas amor acontece de repente:
De surgir sutilmente lareira que nada deixa ausentar.
É parede, é tijolo e o lar dos meus retratos
que sob ela se exibem orgulhosos.

Dias a fio pode estar sem lenha sequer queimar,
mas basta brisa gelada de inverno para seu motivo reinventar.
E vem lá: Memórias boas, sonhos bons, saudade dura,
sorrisos novos nuca hão de faltar.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Alegria Alegria *

Os dias de sol estão de volta
mas bem hoje que estou de bermuda
ameaça chover de mim.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Terra (Música) *

Onde que me passo?
Que posso?
Passo na terra!

Onde que eu passo,
com passo,
carrego terra.

Onde que com terra,
na terra,
construo morro?

Onde que eu morro?
Sem morro
Não tenho passe!

Antes que me passem,
por terra,
aterro a terra!

Dentro do aterro,
o enterro
parece pouco.

-

Onde que me passo?
Com passo,
construo morro!

Onde que eu passo?
Na terra
não tenho passe!

Onde que com terra,
sem morro,
aterro a terra?

Onde que eu morro
por terra
parece pouco?

Antes que me passem,
no enterro,
passo na terra.

Dentro do aterro,
que posso?
Carrego terra!

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Elogio à ingenuidade *

Tênue plenitude
Te prende.
Pouco, testemunha
Perdas temporais.
Falta menos foco
Fazendo mera fachada.

sábado, 13 de agosto de 2011

Amizade *

No espaço impossível das coisas imoveis
Se meche no meu peito uma vontade só.

Corajosa como a brisa que vem do mar
Quando seca as lagrimas de quem chora na orla.

É um grito profundo, ardido e intolerante 
Me tira o sono triste da solidão.

É estar no olhar, na palavra e na risada,
Acompanhado por algo tão igual quanto maior.

Que mesmo distante faz presente
O mais belo sentimento do amor.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Um pé, talvez *

Tem pé que parece nunca ter pisado chão,
Talvez no caso, ter sido carregada por todo canto,
Banhado, no mais, por pequenas bolas de ar,
Sem perder, agora, no entanto todo o encanto
Dum pequeno molhado por barro feliz de bagunça.

Pisa minha cama devagar, e põe a vagar sentimento
Que se não fosse desse, julgaria grosso e animal, mas
É suave e delicado, excitante, caloroso irresponsável.
Costuma fugir e desvairar às noites e, quando o faz,
Não se pode perder a chance de abocanhar,
[mesmo ao encabular.

Esse pé talvez seja dela não por qualquer acaso,
Tenha posto no caso desse caso, descanso e impecável,
Por força do seu tipo, que reflete nos garfinhos e faca,
Rasgado único e nunca visto, que mesmo que essa passe,
Não levará, talvez, tudo tão de repente.  

terça-feira, 2 de novembro de 2010

desPoP*

Desoriginalidade não é de todo mal,
o mau se esconde na incapacidade de
desconstruir prejuízo. Que é bem certo daqueles
que não querem despreconceitualizar .

Não que não veja maldade.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Agnosticismo

a fortiori, Tudo se resolve.
Posto num esquema liso prato.

Assim pronto, nasce outro.
Questão de ser.

Somam-se teorias,
sobre trabalhar,
sobre não fazer.

Alteridade disfarçada engana,
até mesmo paixão forte, motivo
dos desmotivos.


Resposta é que não
se diz inteiro.

Piano lento que inquiete,
grito que acalme.

Por tudo, o sonho apaixonado
ainda vale. Não vendido ao
descrente e desventurado.

Sermos ser, não obedece
sermão. O que sobra é paixão,
chamada as vezes de sublevação.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

* sou

A infinita indefinição das coisas
convence o que é você.

Por assim saber
verte a solução silenciosa.

Todos os sorrisos, olhares.
O que está ainda não perde
a incoerência  que me faz feliz.

E feliz vou sendo,
enquanto encontrar em você
A loucura de nós,
amizade que elucida o que sou.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.

- Carlos Drummond de Andrade

domingo, 17 de outubro de 2010

Aparição Amorosa

Doce fantasma, porque me visitas
como em outros tempos nossos corpos se visitavam?
Tua transparência roça-me  a pele, convida
a refazermos carícias impraticáveis: ninguém nunca
um beijo recebeu de rosto consumido.

Mas insistes, doçura. Ouço-te a voz,
mesma voz, mesmo timbre,
mesmas leves sílabas,
e aquele mesmo longo arquejo,
em que te esvaías de prazer,
e nosso final descanso de camurça.

Então, convicto,
ouço teu nome, unica parte de ti que não se dissolve
e continua existindo, puro som
Aperto... o que? a massa de ar em que te converteste
e beijo, beijo intensamente nada.

Amado ser destruído, por que voltas
e és tão real assim tão ilusório?
Já nem distingo mais se és sombra
ou sombra sempre foste, e nossa história
invenção de livro soletrado
sob pestanas sonolentas.
Terei um dia conhecido
teu vero corpo como hoje eu o sei
de enlaçar o vapor como se enlaça
uma idéia platônica no espaço.

O desejo perdura em ti que já não és,
querida ausente, a perseguir-me, suave?
Nunca pensei que os mortos
o mesmo ardor tivessem de outros dias
e no-lo transmitissem com chupadas
de fogo acesso e gelo matizados

Tua visita ardente me consola.
Tua visita ardente me desola.
Tua visita, apenas uma esmola.

- Carlos Drummond de Andrade


O amor é grande e cabe nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar.

- Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Sentimental

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Primeiro Reencontro *

A vida pesa o passo;
o passo pesa a vida.

E o peso, que se fosse
[medido,
caberia num sorriso,
[escondido
em só uma prova da
[paixão.

---
Sentimental



- Los Hermanos

Almoço Sobre a Relva

Conversamos placidamente
junto da nudez
que pela primeira vez
não nos alucina.

- Carlos Drummond de Andrade


-  Manet

Unidade

As plantas sofrem como nós sofremos.
Porque não sofreriam
se esta é a chave da unidade do mundo?

A flor sofre, tocada
Por mão inconsciente
Há uma queixa abafada
em sua docilidade.

A pedra é sofrimento
paralítico, eterno.

Não temos nós, animais,
sequer o privilégio de sofrer.

- Carlos Drummond de Andrade

Re-trato *

Que a partir de agora tenhamos um trato,
Teu coração não palpita sem meu ar
E meu mar não revolta sem teu olhar:

Até que outro assim.

Risco Final *

Que caia a chuva
A tempestade
Que o céu derrame
E que o céu encharque

Trazendo com a água
A essência da turbulência
Do drama, da paixão

Que rolem as lágrimas
De quem ainda sabe o que é amar:

Viver.